Petroleiros decidem entrar com recurso no CADE contra venda da Reman

Para FUP, compra da refinaria de Manaus pelo Grupo Atem representa criação de monopólio privado regional, com riscos de desabastecimento, práticas abu

Petroleiros decidem entrar com

Rio de Janeiro, 16 de maio de 2022 -- A categoria petroleira, por meio da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás (Anapetro) e Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro-AM), decidiu entrar com recurso de terceiro interessado no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) contra a decisão da superintendência-geral do órgão, que aprovou na semana passada a venda, sem restrições, da refinaria Isaac Sabbá (Reman) da Petrobrás, situada em Manaus (AM), ao grupo Atem.

Os petroleiros têm até 15 dias para encaminhar o processo antes que a operação de venda da refinaria seja levada ao tribunal do CADE, responsável pela votação final no órgão. A operação de venda ao grupo Atem é questionada também por outras partes, entre elas empresas distribuidoras como Raízen, Fogás, Equador e Ipiranga, que apontam riscos de desabastecimento, de práticas abusivas e de fechamento de mercado. Elas já estão como terceiras interessadas e se opuseram à venda quando analisada pela superintendência do CADE. Agora também possuem 15 dias para ingressarem com recurso.

"A venda da Reman é uma fraude explícita à concorrência; um negócio realizado abaixo do preço de mercado e que vai gerar mais um nocivo monopólio regional privado, com prejuízos aos consumidores de combustíveis da região", ressalta o presidente da Anapetro, Mário Dal Zot, observando que a Reman é a única refinaria da região Norte, responsável pelo abastecimento local.

Além de surpreender o mercado, a decisão da superintendência-geral do CADE feriu parecer inicial da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que havia apontado a necessidade de "remédios" na operação, para evitar concentração de mercado, e atropelou a avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU). O sumário executivo "Riscos e Oportunidades da transição para o novo Mercado de Refino", assinado pelo relator do TCU, ministro Walton Alencar Rodrigues, identificou "o risco de que a regulação seja não efetiva após a transição para o mercado resultado dos desinvestimentos, não produzindo o efeito esperado de maximizar o uso da infraestrutura essencial e permitir seu uso não discriminatório por qualquer interessado".

Estudos do TCU indicam que "o tipo de infraestrutura logística para movimentação de combustíveis, a intermodalidade e o volume de investimentos associados podem afetar a competitividade nos mercados resultantes dos desinvestimentos e, consequentemente, o custo logístico da movimentação, aspecto determinante da percepção de vantajosidade em preços pelos consumidores finais".

"A venda da Reman está longe de ser concluída e vamos barrá-la. É um dos mais absurdos casos de monopólio privado regional no refino, tanto que praticamente todas as empresas que atuam nesse mercado também foram ao CADE questionar a operação", destacou o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

O preço negociado pela Petrobrás para a venda da Reman ao grupo Atem é cerca de 70% inferior ao seu valor em comparação com os cálculos estimados em estudo realizado pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

A refinaria, negociada em agosto do ano passado, foi avaliada pelo Ineep pelo valor mínimo de US 279 milhões, quando o valor negociado pela estatal com o comprador foi de US 189 milhões.

Para chegar ao valor, o Ineep utilizou o método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD), que se baseia no valor presente dos fluxos de caixa, projetando-os para o futuro. Do resultado, são descontadas: taxa que reflete o risco do negócio, despesas de capital (investimento em capital fixo) e necessidade adicionais de giro.

A privatização da Reman é mais um episódio do contexto de desmonte da Petrobrás, patrocinado pelo governo Bolsonaro. O discurso oficial de que a privatização de refinarias seria essencial para ampliar a concorrência no mercado interno foi contrariado logo após a venda, no final do ano passado, da refinaria baiana Landulpho Alves (Rlam) e seus ativos logísticos associados ao fundo árabe Mubadala. Todos os ativos também vendidos abaixo do valor de mercado, segundo avaliações do Ineep, e do mercado financeiro, como o BTG Pactual.

Depois de três meses da privatização da Rlam, rebatizada de Refinaria de Mataripe, a Bahia se tornou o estado brasileiro com o combustível mais caro do Brasil, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo. A mesma refinaria, até hoje está sem fornecer óleo bunker a navios por meio do Terminal Madre de Deus, principal ponto de escoamento da produção, por priorizar a sua exportação.


Foto Divulgação Clik Petróleo e Gás

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