A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado ampliará debate do projeto que altera Lei dos Agrotóxicos

Gurgacz, presidente da CRA e relator do projeto: o Brasil utiliza o princípio da precaução no caso dos pesticidas em vez da análise de risco

A Comissão de Agricultura e R

Após demanda de diversos senadores e manifestação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária decidiu nesta quinta-feira (14) estender o debate sobre o Projeto de Lei (PL) 1.459/2022, que revoga a atual Lei dos Agrotóxicos e altera as regras de aprovação e comercialização desses produtos químicos.

Na quinta-feira passada (7), o presidente da CRA e também relator da matéria, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), havia feito a leitura do relatório e previsto a sua análise pelo colegiado nesta semana.

Os senadores aprovaram requerimento para ouvir representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Eles já deveriam ter sido ouvidos, mas a audiência acabou sendo cancelada.

Foi aprovado ainda o requerimento do senador Paulo Rocha (PT-PA) para que seja ouvido o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU), Marcos Orellana, sobre as implicações da gestão ambientalmente incorreta e do descarte de substâncias e resíduos perigosos para os direitos humanos .

Segundo Gurgacz, Pacheco pediu que a matéria fosse mais debatida na comissão, uma vez que houve somente duas audiências públicas para discutir o tema.

— A tramitação dessa matéria na CRA tem se pautado pelo diálogo democrático, com abertura para o livre posicionamento dos parlamentares e amplo debate dos especialistas — pontuou o presidente da CRA. 

O relator lembrou que a matéria tramita há 23 anos no Congresso Nacional. Para Gurgacz, o debate é político e um tema como esse está “carregado de subjetividade, de ideologia, de influências do mercado e da ciência”:

 — O PL reflete uma necessidade de atualização normativa diante do desenvolvimento técnico e científico do mundo atual. (...) O Brasil é o único país representativo na produção de alimentos que utiliza o princípio da precaução para análise de produtos químicos de utilização agrícola. Para medicamentos e outros produtos, já se utiliza análise de risco. Ou seja, os remédios que usamos já estão nessa nova forma, mas os pesticidas, não.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN) questionou a necessidade de rápida análise da matéria apenas em razão da longevidade do PL. E criticou o fato de o PL ter sido distribuído somente para análise da CRA, enquanto deveria passar pelo crivo das Comissões de Meio Ambiente (CMA) e Assuntos Sociais (CRA), conforme requerimentos apresentados nesse sentido.

— O argumento de que o projeto de lei tramita há muitos anos, para mim, serve ao contrário. Um projeto que passa 20 anos na Casa, ou porque é muito polêmico, ou é ruim mesmo. Portanto, tem de sofrer muito aprimoramento — acentuou Jean Paul Prates.

Para o parlamentar, após tantos anos em tramitação, o projeto já “não vale mais”, pelas alterações ocorridas ao longo dos anos sobre os produtos, estrutura e entidades envolvidas:

—Temos que tratar desse assunto com independência técnica. Esse projeto requer todos os cuidados. Não é à toa que é apelidado de PL do veneno.

Segundo Jean Paul, parecer técnico da Consultoria Legislativa do Senado aponta que o projeto recebeu manifestações contrárias de diversas instituições de pesquisa, sociedades científicas, órgãos técnicos das áreas de saúde e ambiente, e da sociedade civil organizada, incluindo a plataforma Chega de Agrotóxicos, que recolheu mais de 1,7 milhão assinaturas.

— Essas entidades afirmam que o texto confere clara prevalência ao interesse econômico sobre a saúde humana e o meio ambiente. Ademais, ressaltam o aumento do uso de agrotóxicos no país (um dos maiores consumidores mundiais), bem como efeitos deletérios do uso intensivo dessas substâncias sobre o meio ambiente e a saúde humana, além de possíveis prejuízos no âmbito do comércio exterior.

O senador Paulo Rocha (PT-PA) defendeu igualmente análise mais detida da matéria. E explicou que conseguir mais tempo para deliberação do PL pelo colegiado é instrumento legítimo da Minoria para obter as alterações necessárias no texto do projeto.

Já o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) ponderou que a deliberação deveria ocorrer o quanto antes diante da extrema importância dessa legislação.

— Nenhum país no mundo tem uma legislação como nós temos, de preservação. E ainda nos criticam. Temos a agricultura sustentável e agora precisamos da modernidade nos defensivos agrícolas — disse Heinze.


Fonte: Agência Senado

Foto Geraldo Magela Agência Senado

Notícias relacionadas
© Estudo revela presença de agrotóxicos em água da chuva em cidades paulistas, incluindo substâncias proibidas no Brasil

Estudo revela presença de agrotóxicos em água da chuva em cidades paulistas, incluindo substâncias proibidas no Brasil

© Restrições a defensivos químicos ameaçam agricultura na Europa, aponta especialista

Restrições a defensivos químicos ameaçam agricultura na Europa, aponta especialista

© Área tratada por defensivos agrícolas no Brasil cresce 9,2% em 2024

Área tratada por defensivos agrícolas no Brasil cresce 9,2% em 2024

© Morte de abelhas leva a Polícia Científica do Paraná a identificar agrotóxico usado irregularmente no Brasil

Morte de abelhas leva a Polícia Científica do Paraná a identificar agrotóxico usado irregularmente no Brasil

Comentários 0
Deixe seu comentário
or

For faster login or register use your social account.

Connect with Facebook