Por Marcelo Branquinho
A revolução digital no campo está moldando uma nova era para o agronegócio brasileiro. Com a chegada da Agricultura 4.0, o setor tem adotado tecnologias como sensores inteligentes, drones, softwares de gestão, inteligência artificial e dispositivos de Internet das Coisas (IoT) para aumentar a produtividade, reduzir desperdícios e melhorar a tomada de decisões. O resultado é o surgimento das chamadas "fazendas inteligentes", onde cada etapa do ciclo produtivo — do preparo do solo à logística de distribuição — pode ser monitorada e ajustada em tempo real.
Essas inovações oferecem ganhos consideráveis em eficiência e sustentabilidade. Sensores mapeiam o solo e o clima, algoritmos preveem pragas ou indicam o momento ideal de plantio e colheita, e máquinas autônomas operam com precisão milimétrica. Tudo isso controlado por meio de plataformas conectadas à nuvem. No entanto, essa evolução tecnológica traz um efeito colateral crescente e preocupante: a vulnerabilidade a ataques cibernéticos.
À medida que o campo se conecta, aumenta também a exposição a ameaças digitais. Informações estratégicas sobre safras, contratos, estoques e transações financeiras estão agora armazenadas em sistemas que podem ser alvos de invasores. Plataformas de gestão agrícola, sistemas de irrigação automatizados e até a logística de exportação podem ser interrompidos por ataques, causando prejuízos operacionais e financeiros.
Casos recentes mostram que o risco é real. Em 2023, o Grupo Scheffer, referência na produção agrícola no Mato Grosso, teve suas operações paralisadas por um ataque de ransomware associado ao grupo criminoso LockBit. No ano seguinte, a Amaggi, uma das maiores tradings do país, teve documentos internos supostamente vazados após uma invasão a seus sistemas corporativos. E a cooperativa Coplacana, tradicional no setor sucroenergético, enfrentou uma invasão que afetou serviços oferecidos a seus cooperados — tudo isso fruto de vulnerabilidades exploradas por cibercriminosos.
Esses exemplos escancaram a fragilidade do agronegócio diante de uma nova ameaça invisível, mas devastadora. Muitos produtores, sobretudo de pequeno e médio porte, ainda carecem de políticas estruturadas de segurança da informação, o que os transforma em alvos fáceis.
A resposta a essa ameaça passa por tecnologia, mas também por cultura. Firewalls, backups regulares, autenticação de múltiplos fatores e atualizações de software são fundamentais. No entanto, mais do que ferramentas, o setor precisa incorporar a cibersegurança ao seu DNA — conscientizando gestores, capacitando equipes e tratando a proteção digital com a mesma seriedade que dedica ao planejamento agrícola.
A Agricultura 4.0 é irreversível e representa uma oportunidade única de modernização e competitividade para o agro brasileiro. Mas seu sucesso depende de um alicerce sólido em segurança digital. As fazendas do futuro já estão conectadas. O desafio agora é garantir que também estejam protegidas.
* CEO e fundador da TI Safe, uma empresa especializada em segurança cibernética para infraestruturas críticas. Graduado em Engenharia Elétrica, Branquinho é especialista em segurança de sistemas SCADA e membro da International Society of Automation (ISA).