A precisão do monitoramento florestal no Brasil e seu papel estratégico na conservação das florestas públicas estiveram no centro do debate durante o segundo encontro da Jornada de Conhecimento sobre Concessões Florestais, realizado no dia 9 de maio. Promovida pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), a atividade reuniu procuradores do Ministério Público Federal (MPF), pesquisadores e representantes da sociedade civil em um encontro virtual.
Com o tema "Monitoramento da Concessão", a sessão teve como convidado o engenheiro florestal José Humberto Chaves, Coordenador-Geral de Monitoramento e Auditoria Florestal do SFB. Durante a apresentação, ele detalhou o sofisticado sistema de controle das concessões florestais federais, baseado na rastreabilidade da madeira, cruzamento de dados de satélite e uso de tecnologia LIDAR (Light Detection and Ranging) - técnica de sensoriamento remoto que utiliza feixes de luz laser para medir distâncias e criar modelos tridimensionais precisos de um ambiente.
“A concessão florestal é um verdadeiro laboratório a céu aberto”, destacou José Humberto. “Combinamos imagens de satélite, sensores a laser e auditorias independentes para garantir que o manejo seja feito de forma legal, sustentável e transparente”, afirmou.
Sistema robusto para controlar a floresta
Entre as ferramentas utilizadas, destacam-se o Sistema de Cadeia de Custódia (SCC) — que registra o ciclo completo de cada árvore extraída — e a tecnologia de drones para medir o volume de madeira em pátios. Outro destaque é o uso de sensores LIDAR, que geram imagens em 3D da floresta antes e depois do manejo, permitindo avaliar os impactos da atividade sobre a vegetação.
Além do controle contratual feito pelo SFB, o IBAMA realiza fiscalizações com foco ambiental, assegurando que a exploração obedeça aos limites autorizados. As áreas concessionadas, segundo os dados apresentados, têm mostrado recuperação rápida da vegetação e servem como barreiras efetivas contra o avanço do desmatamento ilegal.
Durante o debate, Lucas Mazzei, pesquisador que atua com manejo florestal e parcelas permanentes na Amazônia, apontou o desafio central para a sustentabilidade econômica do setor:
“Se a gente controla o fim da cadeia e retira o ilegal do mercado, o preço da madeira sobe. E isso permite reduzir a intensidade do manejo, conservar mais floresta e aumentar a sustentabilidade”, afirmou. “Hoje, infelizmente, muitas operações de fiscalização focam somente em áreas legais, onde já há mais controle”.
Certificação e o papel do mercado
Elson Lima, representante do FSC Brasil, reforçou a convergência entre concessões e certificações florestais. Segundo ele, mais de 90% das concessões federais já possuem o selo FSC, o que reforça seu compromisso com padrões sociais e ambientais.
“A certificação traz uma redução significativa de riscos, sobretudo em regiões onde o controle estatal ainda é desafiador”, disse Elson. “Concessões certificadas devem ser vistas como aliadas no enfrentamento ao desmatamento ilegal”, concluiu.
Ao final do encontro, os participantes reforçaram a importância das concessões florestais como instrumentos legítimos de uso sustentável das florestas públicas, que permitem manter a floresta em pé, gerar empregos e renda local, além de garantir segurança jurídica e previsibilidade.
“As concessões florestais são uma estratégia eficaz de combate ao desmatamento. Os dados comprovam isso. Temos que ampliar essas áreas e atuar para garantir o manejo florestal sustentável nos territórios”, destacou Leonardo Sobral, diretor de Florestas e Restauração do Imaflora, ecoando o consenso de que a proteção das florestas passa por uma ação coordenada entre controle, ciência e justiça.
O próximo encontro da Jornada será no dia 23 de maio, com o tema "Transparência e Participação Social: o papel do Ministério Público, órgãos de controle e da sociedade", e discutirá os mecanismos legais e institucionais de participação da sociedade civil no processo de concessão florestal, como os Conselhos Consultivos, audiências públicas e consultas às comunidades do entorno.